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FORUM MACUA

Local destinado a discutir tudo o que se relacione com Moçambique, em particular, e os PALOP, em geral. Solicita-se o uso de uma linguagem acessível a todos em geral. Mensagens com termos ou temas inadequados serão apagadas.

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Re: Re: E em Moçambique?


Outro comentário:


Estou plenamente de acordo com a sugestão. Tem o meu acordo. Não devemos continuar a tolerar discriminações deste tipo.


FV

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Replying to:


Comentário recebido particularmente de um angolano:


Cresci e fui criado num meio onde o racismo não existia, num dos bairros de Luanda, sou branco,


aprendi com os meus irmãos negros a fazer carros de lata, hoje sofro ao ver que entre Angolanos


se fazem esse tipo de coisas, o melhor a fazer seria um boicote ao Palos por todos que se sentem


angolanos branco , negros, mestiços e mesmo os estrangeiros que têm angola no coração. Também


eu já sofri discriminações pelo simples facto de ser Angolano, o meu salário ser mais baixo do que se


apresentasse um passaporte português ou outro qualquer.


Algo precisa ser feito.

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: Re: Re: E em Moçambique?


Mais um comentário:


Eu sou branco, penso que você tem razão, se as coisas se passaram como diz…


Vou-lhe contar uma breve história – por sinal parte do meu último romance sobre Angola –, que se chama: «O “CAMACOVO” (C_F_B) – Angola. Oito dias de Teixeira de Sousa a Lisboa.»


Tive um amigo negro chamado Saúl e era fogueiro do CAMACOVO. Dizia ele, com a experiência que os seus sessenta e dois anos lhe haviam conferido: « Nôs furiel, p’ra mim, non há essos coisa dos pretos nem dos brancos, non sabe?... Filhos da mãe há em todo o lado e de todos os cores!...» Acho que ele tinha razão... Angola tem que saber elevar-se. Sobrepor-se a essas bizarrias.


Tudo a favor da Santa Pátria Angolana!.......


Um abraço.

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Outro comentário:


Estou plenamente de acordo com a sugestão. Tem o meu acordo. Não devemos continuar a tolerar discriminações deste tipo.


FV

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Comentário recebido particularmente de um angolano:


Cresci e fui criado num meio onde o racismo não existia, num dos bairros de Luanda, sou branco,


aprendi com os meus irmãos negros a fazer carros de lata, hoje sofro ao ver que entre Angolanos


se fazem esse tipo de coisas, o melhor a fazer seria um boicote ao Palos por todos que se sentem


angolanos branco , negros, mestiços e mesmo os estrangeiros que têm angola no coração. Também


eu já sofri discriminações pelo simples facto de ser Angolano, o meu salário ser mais baixo do que se


apresentasse um passaporte português ou outro qualquer.


Algo precisa ser feito.

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: Re: Re: Re: E em Moçambique?


Caro Amigo;


Eu sou um frequentador do Palos, embora vá uma vez ou outra, mais vou. Contudo não concordo consigo, quando você diz que o Palos é um local onde a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Amigo, racismo é isso que você está a fazer. Não o conheço mais você amigo deve ser muito complexado. As pessoas vão aonde se sentem bem!


Pare lá com isso e preocupe-se com outras coisas graves que ocorrem todos dias na nossa cidade. Eu mesmo já por varias vezes fui chamado pela cor da pele e prontamente dei a resposta necessária. As pessoas são todas racistas uns mais do que os outros, e muita das vezes sem querermos estamos a ser racistas.


Desculpe-me, mais uma vez digo-lhe que o amigo é complexado!

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Mais um comentário:


Eu sou branco, penso que você tem razão, se as coisas se passaram como diz…


Vou-lhe contar uma breve história – por sinal parte do meu último romance sobre Angola –, que se chama: «O “CAMACOVO” (C_F_B) – Angola. Oito dias de Teixeira de Sousa a Lisboa.»


Tive um amigo negro chamado Saúl e era fogueiro do CAMACOVO. Dizia ele, com a experiência que os seus sessenta e dois anos lhe haviam conferido: « Nôs furiel, p’ra mim, non há essos coisa dos pretos nem dos brancos, non sabe?... Filhos da mãe há em todo o lado e de todos os cores!...» Acho que ele tinha razão... Angola tem que saber elevar-se. Sobrepor-se a essas bizarrias.


Tudo a favor da Santa Pátria Angolana!.......


Um abraço.

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Outro comentário:


Estou plenamente de acordo com a sugestão. Tem o meu acordo. Não devemos continuar a tolerar discriminações deste tipo.


FV

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Comentário recebido particularmente de um angolano:


Cresci e fui criado num meio onde o racismo não existia, num dos bairros de Luanda, sou branco,


aprendi com os meus irmãos negros a fazer carros de lata, hoje sofro ao ver que entre Angolanos


se fazem esse tipo de coisas, o melhor a fazer seria um boicote ao Palos por todos que se sentem


angolanos branco , negros, mestiços e mesmo os estrangeiros que têm angola no coração. Também


eu já sofri discriminações pelo simples facto de ser Angolano, o meu salário ser mais baixo do que se


apresentasse um passaporte português ou outro qualquer.


Algo precisa ser feito.

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: Re: Re: Re: Re: E em Moçambique?


Não tive ainda oportunidade de ir ao Palos e tb nunca havia ouvido qualquer comentário a este respeito, contudo, devo admitir que estou absolutamente embasbacada com o relato. Como brasileira, irrito-me profundamente ao ser discriminada (o que é mais frequente do que as pessoas tb gostem de admitir) - seja enquanto estrangeira, seja como branca e assim, concordo e entendo perfeitamente a indignação de José Chiteque!


Não concordo com a afirmação de que o Palos "tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça". Não, ninguém tem o direito de selecionar com base em raça!


Mas ele tem razão quando aponta o paradoxo disso estar acontecendo num país africano, negro na essência e governado por negros!!! Esses episódios devem ser divulgados e condenados!



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Caro Amigo;


Eu sou um frequentador do Palos, embora vá uma vez ou outra, mais vou. Contudo não concordo consigo, quando você diz que o Palos é um local onde a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Amigo, racismo é isso que você está a fazer. Não o conheço mais você amigo deve ser muito complexado. As pessoas vão aonde se sentem bem!


Pare lá com isso e preocupe-se com outras coisas graves que ocorrem todos dias na nossa cidade. Eu mesmo já por varias vezes fui chamado pela cor da pele e prontamente dei a resposta necessária. As pessoas são todas racistas uns mais do que os outros, e muita das vezes sem querermos estamos a ser racistas.


Desculpe-me, mais uma vez digo-lhe que o amigo é complexado!

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Mais um comentário:


Eu sou branco, penso que você tem razão, se as coisas se passaram como diz…


Vou-lhe contar uma breve história – por sinal parte do meu último romance sobre Angola –, que se chama: «O “CAMACOVO” (C_F_B) – Angola. Oito dias de Teixeira de Sousa a Lisboa.»


Tive um amigo negro chamado Saúl e era fogueiro do CAMACOVO. Dizia ele, com a experiência que os seus sessenta e dois anos lhe haviam conferido: « Nôs furiel, p’ra mim, non há essos coisa dos pretos nem dos brancos, non sabe?... Filhos da mãe há em todo o lado e de todos os cores!...» Acho que ele tinha razão... Angola tem que saber elevar-se. Sobrepor-se a essas bizarrias.


Tudo a favor da Santa Pátria Angolana!.......


Um abraço.

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Outro comentário:


Estou plenamente de acordo com a sugestão. Tem o meu acordo. Não devemos continuar a tolerar discriminações deste tipo.


FV

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Comentário recebido particularmente de um angolano:


Cresci e fui criado num meio onde o racismo não existia, num dos bairros de Luanda, sou branco,


aprendi com os meus irmãos negros a fazer carros de lata, hoje sofro ao ver que entre Angolanos


se fazem esse tipo de coisas, o melhor a fazer seria um boicote ao Palos por todos que se sentem


angolanos branco , negros, mestiços e mesmo os estrangeiros que têm angola no coração. Também


eu já sofri discriminações pelo simples facto de ser Angolano, o meu salário ser mais baixo do que se


apresentasse um passaporte português ou outro qualquer.


Algo precisa ser feito.

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: Re: Re: Re: Re: Re: E em Moçambique?


Recebi de um amigo identificado:


- é mesmo assim. é preciso dar corpo as vozes de protesto contra a arrogãncia estúpida dos gerentes do palos, e apesar de negro e nunca ter sido barrado, desisti de ir ao Palos ainda no princípio da sua actividade por não concordar com as arbitrariedades que se cometiam em nome de uma pseudo selecção de clientela.



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Não tive ainda oportunidade de ir ao Palos e tb nunca havia ouvido qualquer comentário a este respeito, contudo, devo admitir que estou absolutamente embasbacada com o relato. Como brasileira, irrito-me profundamente ao ser discriminada (o que é mais frequente do que as pessoas tb gostem de admitir) - seja enquanto estrangeira, seja como branca e assim, concordo e entendo perfeitamente a indignação de José Chiteque!


Não concordo com a afirmação de que o Palos "tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça". Não, ninguém tem o direito de selecionar com base em raça!


Mas ele tem razão quando aponta o paradoxo disso estar acontecendo num país africano, negro na essência e governado por negros!!! Esses episódios devem ser divulgados e condenados!



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Replying to:


Caro Amigo;


Eu sou um frequentador do Palos, embora vá uma vez ou outra, mais vou. Contudo não concordo consigo, quando você diz que o Palos é um local onde a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Amigo, racismo é isso que você está a fazer. Não o conheço mais você amigo deve ser muito complexado. As pessoas vão aonde se sentem bem!


Pare lá com isso e preocupe-se com outras coisas graves que ocorrem todos dias na nossa cidade. Eu mesmo já por varias vezes fui chamado pela cor da pele e prontamente dei a resposta necessária. As pessoas são todas racistas uns mais do que os outros, e muita das vezes sem querermos estamos a ser racistas.


Desculpe-me, mais uma vez digo-lhe que o amigo é complexado!

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Mais um comentário:


Eu sou branco, penso que você tem razão, se as coisas se passaram como diz…


Vou-lhe contar uma breve história – por sinal parte do meu último romance sobre Angola –, que se chama: «O “CAMACOVO” (C_F_B) – Angola. Oito dias de Teixeira de Sousa a Lisboa.»


Tive um amigo negro chamado Saúl e era fogueiro do CAMACOVO. Dizia ele, com a experiência que os seus sessenta e dois anos lhe haviam conferido: « Nôs furiel, p’ra mim, non há essos coisa dos pretos nem dos brancos, non sabe?... Filhos da mãe há em todo o lado e de todos os cores!...» Acho que ele tinha razão... Angola tem que saber elevar-se. Sobrepor-se a essas bizarrias.


Tudo a favor da Santa Pátria Angolana!.......


Um abraço.

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Replying to:


Outro comentário:


Estou plenamente de acordo com a sugestão. Tem o meu acordo. Não devemos continuar a tolerar discriminações deste tipo.


FV

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Comentário recebido particularmente de um angolano:


Cresci e fui criado num meio onde o racismo não existia, num dos bairros de Luanda, sou branco,


aprendi com os meus irmãos negros a fazer carros de lata, hoje sofro ao ver que entre Angolanos


se fazem esse tipo de coisas, o melhor a fazer seria um boicote ao Palos por todos que se sentem


angolanos branco , negros, mestiços e mesmo os estrangeiros que têm angola no coração. Também


eu já sofri discriminações pelo simples facto de ser Angolano, o meu salário ser mais baixo do que se


apresentasse um passaporte português ou outro qualquer.


Algo precisa ser feito.

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: E em Moçambique?


De uma amiga de Luanda:


Concordo absolutamente com tudo o que foi escrito!


O mesmo se deve dizer em relaçao a discoteca Brasília em que este vosso amigo, por duas vezes já, foi impedido de entrar provalvelmente por ser branco (pois ali ninguém me conhece e nunca arranjei maka, ah uma das vezes a minha mulher "mulata" usava ténis e só ela é que não poude entrar) e por isso tive que aguentar algumas humilhações enquanto indivíduos negros entravam sem serem impedidos. O que vale é que o Palos é uma boa MERDA e tá cheio de brancos BIMBOS armados que tem massa. E o Brasília não sei... Só lá consegui entrar uma vez quando acompanhado por amigos "menos claros" que eu, talvez por ser a MASCOTE BRANCA do pessoal... Não sei!


Aquele Abraço


e Abaixo o Racismo no PALOS !

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Replying to:

Quem entra na discoteca Palos, no centro de Luanda,facilmente se apercebe tratar-se de um local onde,invariavelmente, a maioria dos clientes é de raça branca ou mestiça. Em princípio, não há nada deanormal em relação ao facto.


Numa e noutra ocasião, a referida discoteca mereceu a atenção dos media como um local onde se pratica a discriminação racial. Salvaguardados os argumentos dos acusadores e acusados, também se pode dizer que não há nada de anormal.


Todavia, importa relatar alguns factos ocorridos nessa discoteca como exemplo da necessidade do debate em torno do racismo em Angola, que vai ganhando cada vez mais expressão no quotidiano.


No fim-de-semana passado, três angolanos negros sem aparência de assimilados foram barrados à porta do Palos, com o argumento de que não tinham cartão de sócio e que a casa estava cheia. Nesse entretanto vários brancos entraram, alguns dos quais nem sequer olhavam para a cara do porteiro e vice-versa. Dos brancos que passaram, uns tinham boa aparência, outros má; uns bem vestidos, outros mal amanhados; uns sóbrios e outros com copos a mais.


Os negros, que estavam à porta, proibidos de entrar, e a assistir ao espectáculo estavam, por sinal, bem vestidos e perfumados, não eram feios e tinham dinheiro. Apenas para provar o ridículo da actuação do Palos, um dos negros lembrou ao


porteiro um incidente anterior. Eis um pequeno registo: o protagonista levou um subordinado seu, de raça branca e de passagem por Luanda, ao Palos.


Enquanto estacionava o carro, pediu ao branco que entrasse. Este entrou sem problemas e quando o chefe ia a entrar, foi impedido com a velha desculpa do cartão de sócio e da casa cheia. Revoltado, o negro disparou: «Este branco que você deixou entrar agora não tem cartão de sócio, chegou ontem à Luanda e é meu subordinado. Como você se explica?»


O porteiro, um brutamontes no alto da sua arrogância, disse secamente: «são ordens da gerência!».


Pode-se, pois, formular a primeira questão: a casa já tinha pretos a mais? No intuito de recolher mais dados, o autor pediu para entrar no sentido de contactar a gerência e logo se deu conta de que havia um movimento mediano no interior da discoteca. Não estava vazia, mas também não estava cheia. Portanto, um argumento a menos para o Palos. De forma pedagógica procurou-se explicar aos senhores do Palos, presentes na porta, sobre a necessidade de se adoptarem outros critérios de selecção do s frequentadores de modo a que a casa não seja um pólo de tensão racial, mas um local de convivência urbana. Noutras situações, o autor entrou misturado em grupos de brancos e mestiços e nessas ocasiões nunca foi travado à porta.


Tal comportamento leva a deduzir que os actuais critérios de selecção do Palos podem considerar que um preto que anda no meio de brancos pode passar por mestiço, ou tem a conta paga ou ainda é mascote dos brancos.


Casos do género certamente têm ocorrido com frequência e, provavelmente, noutros lugares. Como contributo à tolerância racial e social, o Palos deve definir melhor os seus critérios de selecção racial e social dos seus frequentadores começando por colocar, na porta, pessoas mais instruídas que possam identificar com maior juízo de valores quem deve e não deve entrar. Esse julgamento não deve ser feito com base na cor do indivíduo, porque a prática do racismo, venha donde vier, é sempre um acto condenável.


Outrossim, o Palos também pode ter disponível uma lista de critérios de admissão, à disponibilidade de todos quantos a exijam, de modo a garantir que ninguém seja humilhado ou desprezado à sua porta por desconhecer ou não saber exactamente as pretensões dos gestores do local. Muitos anos atrás, os cinemas, em Luanda, tinham listas afixadas à entrada para regular a entrada dos cinéfilos. «Não se pode entrar de.chinelos, fato olímpico, calções, etc.


etc». E esses critérios eram uniformes para todos.


Numa sociedade que se pretende plural e tolerante, como a angolana, o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça. Tem, no entanto, de assumir os seus actos.


É importante notar que Angola é e será sempre - para todo o sempre - um país africano. E, apesar das inqualificáveis privações, humilhações e do seu desnorte político e identitário, o povo angolano é bastante hospitaleiro para com os estrangeiros e estrangeirismos.


Contudo, essa hospitalidade mais as iniquidades sociais criadas pelo próprio sistema de mando no país, têm confundido a cabeça de muita gente sobre o orgulho e o estatuto do negro angolano. Enfim, já não se pode adiar, por muito mais tempo, a discussão sobre o racismo e os problemas étnicos em Angola, os grandes tabus do momento. Só o diálogo franco e aberto poderá prevenir que os ressentimentos estoirem nas nossas mãos ou na nossa cara. É preciso transformá-los em enxadas da tolerância.


José Chiteque


jchiteque@yahoo.com


Nota pessoal:


-Só não concordo com José Chiteque quando, a terminar, diz "tolerância". Deverá antes ser "fraternidade".


Fernando Gil

Country Portugal

Re: Re: E em Moçambique?

Retirei das mensagens a seguinte frase: "o Palos tem todo o direito de adoptar critérios de selecção para cativar e manter um tipo de clientela específica, até mesmo com base na raça". Não concordo nada. Nenhuma casa comercial tem aqueles direitos. Em Portugal e pelos vistos em Angola, Moçambique, etc ainda existe esta mentalidade de que os donos das casa noturnas têm o direito de seleccionar a clientela (seja com base no que for). Em Espanha as discotecas não têm pura e simplesmente porteiros; pode-se ir a uma e comprar um copo de cerveja, sair e entrar noutra com o copo na mão que ninguém diz nada. Esta é uma forma muito mais saudável de encarar o negócio da noite e nunca vi zaragatas à porta dos bares e discotecas. Se está cheio, a malta fica à porta à espera ou vai a outro lado.
Abaixo todos os tipos de discriminação e um abraço para todos.

Country Portugal