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Diário de Notícias – Sexta-Feira – 30 de Agosto de 2002
Internacional
"Continuamos atentos à situação do país"br>
JOSÉ MANUEL BARROSO
O chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau diz que os militares querem ajudar a democracia e que é urgente Portugal apoiar a economia do país.
As Forças Armadas da Guiné tiveram um papel determinante na fundação do país e, recentemente, na mudança do poder. Qual é esse papel hoje?
As Forças Armadas da Guiné estão a ser orientadas no sentido do seu afastamento da vida política, para possibilitarem o funcionamento da democracia.
Há poucos dias, uma notícia dava conta de uma reunião entre o Presidente e o primeiro-ministro, para a qual os chefes militares teriam sido convidados. Isso significa o quê?
A Guiné-Bissau acabou de passar por várias crises, por várias perturbações político-militares. Estamos a tentar de todas as formas respirar a liberdade e a fazer tudo o que possa contribuir para a estabilidade. Por isso, é necessário haver de vez em quando uma concertação bi ou tripartida.
E acha que as Forças Armadas são um garante desse objectivo?
Como sabe, a paz não depende só do calar das armas, também depende da situação económica. Mas o calar das armas é fundamental para atingir esse fim.
E a estabilidade política não é um factor importante?
É muito importante.
Parece haver ainda alguma instabilidade. Os governos e os ministros mudam muito e isso para a economia também não é bom.
Somos uma jovem democracia, não o esqueça. Mas eu não quero comentar essas questões. Embora admita ser necessário fazer alguma coisa para corrigir erros, para encontrarmos o rumo certo do desenvolvimento.
Como é que está a reorganização das Forças Armadas?
A reestruturação das Forças Armadas está também a avançar. Aí, temos o apoio de Portugal.
E a situação dos antigos combatentes? Já está resolvida?
Está a ser resolvida paulatinamente através da desmobilização e da aplicação do Programa de Desmobilização e Reinserção dos antigos combatentes, o qual conta com financiamento externo. Pouco a pouco, eles estão a ser reintegrados na sociedade civil.
Portanto, já não há a pressão que houve nos últimos anos?
Já não. Estão a ser desmobilizados mais de três mil combatentes e até agora não houve problemas.
E as questões relativas ao Casamansa e aos problemas fronteiriços com o Senegal?
Temos hoje muito boas relações com o Exército senegalês. Neste momento praticamente não existem problemas de fronteiras.
As Forças Armadas na Guiné estão atentas ao evoluir do país?
As Forças Armadas da Guiné-Bissau não podem ser alheias aos problemas do país. Penso que deviam ser as primeiras a ser esclarecidas sobre a situação, para evitar qualquer outra situação. Não é imiscuirmo-nos nos assuntos políticos do país - mas estar informado, saber como é. Como sabem a nossa situação económica é muito frágil. É preciso informar as unidades militares do que se passa, porque não há arroz, porque isto ou aquilo é ou não possível.
Que espera de Portugal para a superação dos problemas?
Muito, mesmo muito, mesmo que seja apenas moralmente. É preciso que a comunidade internacional e em primeiro lugar Portugal dêem uma mão à Guiné-Bissau. Nós temos muitas dificuldades neste momento. É preciso que os amigos, os irmãos, dêem uma ajuda - um irmão doente precisa do carinho dos amigos e dos familiares. Estamos a tentar tudo por tudo para que isso aconteça. Temos laços de sangue com Portugal. Isso ninguém nos pode tirar. É a história.