Return to Website

FORUM MACUA

Local destinado a discutir tudo o que se relacione com Moçambique, em particular, e os PALOP, em geral. Solicita-se o uso de uma linguagem acessível a todos em geral. Mensagens com termos ou temas inadequados serão apagadas.

FORUM MACUA
Start a New Topic 
Author
Comment
Documento Histórico - 1890 - "compra de terras"


Isto foi no Malawi, mas não foi diferente no Zimbabwe/Rodésia do Sul.




http://www.greatepicbooks.com/epics/august97.html




Está em inglês, o que é que não está em inglês na internet. Não tenho culpa, aliás o meu país faz parte da Commonwealth.




Os fazendeiros depois, não se esqueçam de pedir a roupa e os sapatos que deram em troca das terras ao Mugabe. Devem valer um dinheirão em qualquer leilão londrino, hoje.




Eu a primeira vez que li isto, pensei que era ficção. Custou-me a acreditar.

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:

Diário de Notícias - Edição de 24 de Agosto de 2002




Documento Histórico


Entrevistas DN




Portugal influenciou Senghor






Fernando Pires


entrevistou Léopold Senghor a 3 de Dezembro de 1976






O Presidente Léopold Senghor do Senegal, que participou, em Genebra, no XIII Congresso da Internacional Socialista, de que o seu país é o primeiro membro africano, acedeu, com muita satisfação, a conceder uma entrevista ao Diário de Notícias. E sublinhou esse gesto abandonando, para o efeito, a sala de conferências e confessando, desde logo, que se sentia muito português.




Fizemos alusão a um poema de Senghor sobre a voz de Amália Rodrigues e perguntámos se reconhecia a influência cultural portuguesa na sua obra literária. Ao que o Presidente Senghor, sorrindo, sensibilizado, comentou: "A influência cultural portuguesa na minha obra é muito profunda. Os meus antepassados vieram da Guiné-Bissau e eu tenho um nome de origem portuguesa - Senghor. Há cerca de 70 mil pessoas de origem portuguesa no Senegal. Não só tenho um nome português como me sinto muito português e muito mediterrânico."




O Presidente do Senegal sentou-se num amplo sofá, no salão privado anexo à sala de conferências. Convidou-nos para o seu lado. "Que deseja saber?". Formulámos, então as nossas perguntas.




- Senhor Presidente: é a primeira vez que um chefe político africano participa numa reunião da Internacional Socialista. Que tipo de identidade existe entre o nacionalista africano e os partidos socialistas e sociais-democratas nela representados?




- Quero dizer, antes de mais, que foi há cerca de 45 anos, em 1930, quando estudava em Paris, que ingressei no movimento da Juventude Socialista. Contudo, tínhamos lançado, entretanto, com a colaboração de outros camaradas, o Movimento da Negritude, que não estava em contradição com o nosso ingresso na Juventude Socialista. De que se tratava realmente? Tratava-se, para nós, de criar uma nova civilização negro-africana em todos os domínios. Prioritariamente no plano cultural, sem dúvida, mas não esquecendo o campo político e económico. No domínio cultural, para nós, o problema era, e é ainda, o de nos enraizarmos nos valores próprios das civilizações do mundo negro, a que chamamos a Negritude, e simultaneamente de nos abrirmos a valores estrangeiros. Porque todas as civilizações importantes são civilizações de mestiçagem cultural, e as civilizações mediterrânicas constituem o melhor testemunho disso. O meu professor de Antropologia, no Instituto de Etnologia de Paris, dizia que foi à imagem da atitude mediterrânica criada ao encontro de negros, brancos e amarelos que se criaram as grandes civilizações, desde a civilização egípcia até à civilização árabe, à civilização indiana - de mestiçagem biológica e cultural -, civilização chinesa, dos Maias, dos Astecas, etc.




No que se refere à política adoptámos a ideologia do socialismo democrático, fazendo uma releitura negro-africana-senegalesa dos fundadores do socialismo científico, Marx e Engels. Recordo um texto fundamental de Marx, de que apenas tive conhecimento em 1948, mas já me identificava com a substância do mesmo. Reporto-me ao número de Março de 48 da Revue Socialiste editada em Paris, que publicara um texto inédito de Marx, intitulado Le Travail Aliené. Neste texto inédito, Marx afirma que a primeira atitude dinâmica do homem foi a de trabalhar no sentido da satisfação das suas necessidades vitais de comer, vestir-se e encontrar habitação. Marx chama, seguidamente, a atenção para o facto de que só depois da satisfação das necessidades animais é que o homem pode dedicar-se à sua actividade de criar obras de arte, obras de beleza. A ideologia do socialismo democrático é que pode, portanto, não só resolver os nossos problemas culturais e políticos, mas ainda os nossos problemas económicos. E é um facto que esta ideologia se assemelha às bases essenciais da civilização negro-africana, e esta é uma civilização democrática. Todos os grupos socioprofissionais, todas as camadas sociais participavam no poder, portanto, é uma civilização democrática e ao mesmo tempo comunitária. É a ideia de comunidade que se encontra na base da civilização negro-africana. Este é, pois o nosso ponto de partida. Assim se explica como o militante socialista se une ao militante da Negritude.




- Que papel poderá desempenhar a Internacional Socialista na correcção dos desequilíbrios e desigualdades existentes entre os países desenvolvidos e os do Terceiro Mundo?




- Julgo que só o socialismo pode resolver essas desigualdades. E, para tal, terá de se basear em princípios de racionalidade e de justiça social que se encontram no socialismo e em Marx. Com efeito, o marxismo baseia-se no método dialéctico, que é um método científico que explica o universo e apresenta soluções eficazes para os problemas do mundo moderno. E a justiça social em Marx teve sempre uma preocupação de ordem ética. Uma preocupação ética de permitir ao homem um desenvolvimento integral de corpo e espírito, e Marx assinalou o bem material e o bem espiritual lado a lado.




- O Senegal ainda não reconheceu a República Popular de Angola. A admissão de Angola na ONU, após a mudança de atitude dos Estados Unidos, irá determinar uma revisão da política senegalesa quanto a este país de expressão portuguesa?




- Como sabe, desempenhámos determinado papel na descolonização dos territórios portugueses. O processo foi abordado quano me avistei com o general Spínola, em território senegalês, no cabo Skerin, e lhe disse achar que ele devia favorecer um diálogo entre o Governo português e os movimentos de libertação nacional. Depois da revolução portuguesa, enviei duas mensagens: uma ao general Spínola pedindo-lhe que enviasse alguém a Paris, e outra ao meu amigo Mário Soares. E foi assim que, dois dias depois, me avistei com o representante do general Spínola e de Mário Soares. Foi nessa altura que combinámos um encontro em Dacar, entre Mário Soares e os representantes dos movimentos de libertação. Por meu lado já tinha, naturalmente, contactado com todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas, entre os quais os do Movimento Popular de Libertação de Angola. Tinha-lhes dado dois conselhos: primeiro, de formarem uma frente comum para negociarem com os representantes do Governo português e, por outro lado, visto que todos se reclamavam do socialismo, de constituirem um partido unificado, como tínhamos feito no Senegal com a União Progressista Senegalesa, que representava a unificação de quatro partidos de esquerda. Estes três movimentos de libertação de Angola seguiram os meus conselhos para negociações com Portugal, tendo a UNITA como conselheiro um senegalês, mas, depois da independência de Angola, iniciaram uma guerra civil. Embora mantivéssemos relações estreitas com a UNITA, não reconhecemos o Governo da UNITA-FNLA, como não reconhecemos o MPLA. E sabe bem que no encontro da OUA, realizado no princípio do ano, defendi a tese chamada "moderada". Referia-se ao artigo 3 do estatuto da OUA, que proclamava, por um lado o princípio da democracia e, por outro, o do não alinhamento. E éramos de opinião que os Estados estrangeiros não deviam intervir no conflito angolano, que era necessário constituir um Governo de união nacional e que este Governo preparia as eleições. Recusamos reconhecer o Governo de Neto, por provir de um golpe de força emanado do estrangeiro e não da vontade popular. E, além disso, não reconhecemos regimes, mas sim Estados.




Grandes entrevistas DN, in "Palavras no Tempo - Vol.I"




Julgo haver um qualquer equívoco.


Meu Caro Mzonga,




Julgo haver um qualquer equívoco na sua colocação.




Jorge

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:


Isto foi no Malawi, mas não foi diferente no Zimbabwe/Rodésia do Sul.




http://www.greatepicbooks.com/epics/august97.html




Está em inglês, o que é que não está em inglês na internet. Não tenho culpa, aliás o meu país faz parte da Commonwealth.




Os fazendeiros depois, não se esqueçam de pedir a roupa e os sapatos que deram em troca das terras ao Mugabe. Devem valer um dinheirão em qualquer leilão londrino, hoje.




Eu a primeira vez que li isto, pensei que era ficção. Custou-me a acreditar.

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:

Diário de Notícias - Edição de 24 de Agosto de 2002




Documento Histórico


Entrevistas DN




Portugal influenciou Senghor






Fernando Pires


entrevistou Léopold Senghor a 3 de Dezembro de 1976






O Presidente Léopold Senghor do Senegal, que participou, em Genebra, no XIII Congresso da Internacional Socialista, de que o seu país é o primeiro membro africano, acedeu, com muita satisfação, a conceder uma entrevista ao Diário de Notícias. E sublinhou esse gesto abandonando, para o efeito, a sala de conferências e confessando, desde logo, que se sentia muito português.




Fizemos alusão a um poema de Senghor sobre a voz de Amália Rodrigues e perguntámos se reconhecia a influência cultural portuguesa na sua obra literária. Ao que o Presidente Senghor, sorrindo, sensibilizado, comentou: "A influência cultural portuguesa na minha obra é muito profunda. Os meus antepassados vieram da Guiné-Bissau e eu tenho um nome de origem portuguesa - Senghor. Há cerca de 70 mil pessoas de origem portuguesa no Senegal. Não só tenho um nome português como me sinto muito português e muito mediterrânico."




O Presidente do Senegal sentou-se num amplo sofá, no salão privado anexo à sala de conferências. Convidou-nos para o seu lado. "Que deseja saber?". Formulámos, então as nossas perguntas.




- Senhor Presidente: é a primeira vez que um chefe político africano participa numa reunião da Internacional Socialista. Que tipo de identidade existe entre o nacionalista africano e os partidos socialistas e sociais-democratas nela representados?




- Quero dizer, antes de mais, que foi há cerca de 45 anos, em 1930, quando estudava em Paris, que ingressei no movimento da Juventude Socialista. Contudo, tínhamos lançado, entretanto, com a colaboração de outros camaradas, o Movimento da Negritude, que não estava em contradição com o nosso ingresso na Juventude Socialista. De que se tratava realmente? Tratava-se, para nós, de criar uma nova civilização negro-africana em todos os domínios. Prioritariamente no plano cultural, sem dúvida, mas não esquecendo o campo político e económico. No domínio cultural, para nós, o problema era, e é ainda, o de nos enraizarmos nos valores próprios das civilizações do mundo negro, a que chamamos a Negritude, e simultaneamente de nos abrirmos a valores estrangeiros. Porque todas as civilizações importantes são civilizações de mestiçagem cultural, e as civilizações mediterrânicas constituem o melhor testemunho disso. O meu professor de Antropologia, no Instituto de Etnologia de Paris, dizia que foi à imagem da atitude mediterrânica criada ao encontro de negros, brancos e amarelos que se criaram as grandes civilizações, desde a civilização egípcia até à civilização árabe, à civilização indiana - de mestiçagem biológica e cultural -, civilização chinesa, dos Maias, dos Astecas, etc.




No que se refere à política adoptámos a ideologia do socialismo democrático, fazendo uma releitura negro-africana-senegalesa dos fundadores do socialismo científico, Marx e Engels. Recordo um texto fundamental de Marx, de que apenas tive conhecimento em 1948, mas já me identificava com a substância do mesmo. Reporto-me ao número de Março de 48 da Revue Socialiste editada em Paris, que publicara um texto inédito de Marx, intitulado Le Travail Aliené. Neste texto inédito, Marx afirma que a primeira atitude dinâmica do homem foi a de trabalhar no sentido da satisfação das suas necessidades vitais de comer, vestir-se e encontrar habitação. Marx chama, seguidamente, a atenção para o facto de que só depois da satisfação das necessidades animais é que o homem pode dedicar-se à sua actividade de criar obras de arte, obras de beleza. A ideologia do socialismo democrático é que pode, portanto, não só resolver os nossos problemas culturais e políticos, mas ainda os nossos problemas económicos. E é um facto que esta ideologia se assemelha às bases essenciais da civilização negro-africana, e esta é uma civilização democrática. Todos os grupos socioprofissionais, todas as camadas sociais participavam no poder, portanto, é uma civilização democrática e ao mesmo tempo comunitária. É a ideia de comunidade que se encontra na base da civilização negro-africana. Este é, pois o nosso ponto de partida. Assim se explica como o militante socialista se une ao militante da Negritude.




- Que papel poderá desempenhar a Internacional Socialista na correcção dos desequilíbrios e desigualdades existentes entre os países desenvolvidos e os do Terceiro Mundo?




- Julgo que só o socialismo pode resolver essas desigualdades. E, para tal, terá de se basear em princípios de racionalidade e de justiça social que se encontram no socialismo e em Marx. Com efeito, o marxismo baseia-se no método dialéctico, que é um método científico que explica o universo e apresenta soluções eficazes para os problemas do mundo moderno. E a justiça social em Marx teve sempre uma preocupação de ordem ética. Uma preocupação ética de permitir ao homem um desenvolvimento integral de corpo e espírito, e Marx assinalou o bem material e o bem espiritual lado a lado.




- O Senegal ainda não reconheceu a República Popular de Angola. A admissão de Angola na ONU, após a mudança de atitude dos Estados Unidos, irá determinar uma revisão da política senegalesa quanto a este país de expressão portuguesa?




- Como sabe, desempenhámos determinado papel na descolonização dos territórios portugueses. O processo foi abordado quano me avistei com o general Spínola, em território senegalês, no cabo Skerin, e lhe disse achar que ele devia favorecer um diálogo entre o Governo português e os movimentos de libertação nacional. Depois da revolução portuguesa, enviei duas mensagens: uma ao general Spínola pedindo-lhe que enviasse alguém a Paris, e outra ao meu amigo Mário Soares. E foi assim que, dois dias depois, me avistei com o representante do general Spínola e de Mário Soares. Foi nessa altura que combinámos um encontro em Dacar, entre Mário Soares e os representantes dos movimentos de libertação. Por meu lado já tinha, naturalmente, contactado com todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas, entre os quais os do Movimento Popular de Libertação de Angola. Tinha-lhes dado dois conselhos: primeiro, de formarem uma frente comum para negociarem com os representantes do Governo português e, por outro lado, visto que todos se reclamavam do socialismo, de constituirem um partido unificado, como tínhamos feito no Senegal com a União Progressista Senegalesa, que representava a unificação de quatro partidos de esquerda. Estes três movimentos de libertação de Angola seguiram os meus conselhos para negociações com Portugal, tendo a UNITA como conselheiro um senegalês, mas, depois da independência de Angola, iniciaram uma guerra civil. Embora mantivéssemos relações estreitas com a UNITA, não reconhecemos o Governo da UNITA-FNLA, como não reconhecemos o MPLA. E sabe bem que no encontro da OUA, realizado no princípio do ano, defendi a tese chamada "moderada". Referia-se ao artigo 3 do estatuto da OUA, que proclamava, por um lado o princípio da democracia e, por outro, o do não alinhamento. E éramos de opinião que os Estados estrangeiros não deviam intervir no conflito angolano, que era necessário constituir um Governo de união nacional e que este Governo preparia as eleições. Recusamos reconhecer o Governo de Neto, por provir de um golpe de força emanado do estrangeiro e não da vontade popular. E, além disso, não reconhecemos regimes, mas sim Estados.




Grandes entrevistas DN, in "Palavras no Tempo - Vol.I"




Country Portugal

Re: Julgo haver um qualquer equívoco.


Peço imensa desculpa, não quero desviar a atenção do assunto que da sua mensagem. É que tive à procura deste e outros documentos para a discussão da terra e poder no Zimbabué, e quando li o seu título, aproveitei-o.




Senghor é nome português? Sem o "g"? Desconhecia, Lagos, capital da Nigéria, é português. Aquele guarda-redes do Senegal, Tony Sylva, também deve ser um nome português.

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:


Meu Caro Mzonga,




Julgo haver um qualquer equívoco na sua colocação.




Jorge

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:


Isto foi no Malawi, mas não foi diferente no Zimbabwe/Rodésia do Sul.




http://www.greatepicbooks.com/epics/august97.html




Está em inglês, o que é que não está em inglês na internet. Não tenho culpa, aliás o meu país faz parte da Commonwealth.




Os fazendeiros depois, não se esqueçam de pedir a roupa e os sapatos que deram em troca das terras ao Mugabe. Devem valer um dinheirão em qualquer leilão londrino, hoje.




Eu a primeira vez que li isto, pensei que era ficção. Custou-me a acreditar.

--- --- --- --- --- --- --- --- ---

Replying to:

Diário de Notícias - Edição de 24 de Agosto de 2002




Documento Histórico


Entrevistas DN




Portugal influenciou Senghor






Fernando Pires


entrevistou Léopold Senghor a 3 de Dezembro de 1976






O Presidente Léopold Senghor do Senegal, que participou, em Genebra, no XIII Congresso da Internacional Socialista, de que o seu país é o primeiro membro africano, acedeu, com muita satisfação, a conceder uma entrevista ao Diário de Notícias. E sublinhou esse gesto abandonando, para o efeito, a sala de conferências e confessando, desde logo, que se sentia muito português.




Fizemos alusão a um poema de Senghor sobre a voz de Amália Rodrigues e perguntámos se reconhecia a influência cultural portuguesa na sua obra literária. Ao que o Presidente Senghor, sorrindo, sensibilizado, comentou: "A influência cultural portuguesa na minha obra é muito profunda. Os meus antepassados vieram da Guiné-Bissau e eu tenho um nome de origem portuguesa - Senghor. Há cerca de 70 mil pessoas de origem portuguesa no Senegal. Não só tenho um nome português como me sinto muito português e muito mediterrânico."




O Presidente do Senegal sentou-se num amplo sofá, no salão privado anexo à sala de conferências. Convidou-nos para o seu lado. "Que deseja saber?". Formulámos, então as nossas perguntas.




- Senhor Presidente: é a primeira vez que um chefe político africano participa numa reunião da Internacional Socialista. Que tipo de identidade existe entre o nacionalista africano e os partidos socialistas e sociais-democratas nela representados?




- Quero dizer, antes de mais, que foi há cerca de 45 anos, em 1930, quando estudava em Paris, que ingressei no movimento da Juventude Socialista. Contudo, tínhamos lançado, entretanto, com a colaboração de outros camaradas, o Movimento da Negritude, que não estava em contradição com o nosso ingresso na Juventude Socialista. De que se tratava realmente? Tratava-se, para nós, de criar uma nova civilização negro-africana em todos os domínios. Prioritariamente no plano cultural, sem dúvida, mas não esquecendo o campo político e económico. No domínio cultural, para nós, o problema era, e é ainda, o de nos enraizarmos nos valores próprios das civilizações do mundo negro, a que chamamos a Negritude, e simultaneamente de nos abrirmos a valores estrangeiros. Porque todas as civilizações importantes são civilizações de mestiçagem cultural, e as civilizações mediterrânicas constituem o melhor testemunho disso. O meu professor de Antropologia, no Instituto de Etnologia de Paris, dizia que foi à imagem da atitude mediterrânica criada ao encontro de negros, brancos e amarelos que se criaram as grandes civilizações, desde a civilização egípcia até à civilização árabe, à civilização indiana - de mestiçagem biológica e cultural -, civilização chinesa, dos Maias, dos Astecas, etc.




No que se refere à política adoptámos a ideologia do socialismo democrático, fazendo uma releitura negro-africana-senegalesa dos fundadores do socialismo científico, Marx e Engels. Recordo um texto fundamental de Marx, de que apenas tive conhecimento em 1948, mas já me identificava com a substância do mesmo. Reporto-me ao número de Março de 48 da Revue Socialiste editada em Paris, que publicara um texto inédito de Marx, intitulado Le Travail Aliené. Neste texto inédito, Marx afirma que a primeira atitude dinâmica do homem foi a de trabalhar no sentido da satisfação das suas necessidades vitais de comer, vestir-se e encontrar habitação. Marx chama, seguidamente, a atenção para o facto de que só depois da satisfação das necessidades animais é que o homem pode dedicar-se à sua actividade de criar obras de arte, obras de beleza. A ideologia do socialismo democrático é que pode, portanto, não só resolver os nossos problemas culturais e políticos, mas ainda os nossos problemas económicos. E é um facto que esta ideologia se assemelha às bases essenciais da civilização negro-africana, e esta é uma civilização democrática. Todos os grupos socioprofissionais, todas as camadas sociais participavam no poder, portanto, é uma civilização democrática e ao mesmo tempo comunitária. É a ideia de comunidade que se encontra na base da civilização negro-africana. Este é, pois o nosso ponto de partida. Assim se explica como o militante socialista se une ao militante da Negritude.




- Que papel poderá desempenhar a Internacional Socialista na correcção dos desequilíbrios e desigualdades existentes entre os países desenvolvidos e os do Terceiro Mundo?




- Julgo que só o socialismo pode resolver essas desigualdades. E, para tal, terá de se basear em princípios de racionalidade e de justiça social que se encontram no socialismo e em Marx. Com efeito, o marxismo baseia-se no método dialéctico, que é um método científico que explica o universo e apresenta soluções eficazes para os problemas do mundo moderno. E a justiça social em Marx teve sempre uma preocupação de ordem ética. Uma preocupação ética de permitir ao homem um desenvolvimento integral de corpo e espírito, e Marx assinalou o bem material e o bem espiritual lado a lado.




- O Senegal ainda não reconheceu a República Popular de Angola. A admissão de Angola na ONU, após a mudança de atitude dos Estados Unidos, irá determinar uma revisão da política senegalesa quanto a este país de expressão portuguesa?




- Como sabe, desempenhámos determinado papel na descolonização dos territórios portugueses. O processo foi abordado quano me avistei com o general Spínola, em território senegalês, no cabo Skerin, e lhe disse achar que ele devia favorecer um diálogo entre o Governo português e os movimentos de libertação nacional. Depois da revolução portuguesa, enviei duas mensagens: uma ao general Spínola pedindo-lhe que enviasse alguém a Paris, e outra ao meu amigo Mário Soares. E foi assim que, dois dias depois, me avistei com o representante do general Spínola e de Mário Soares. Foi nessa altura que combinámos um encontro em Dacar, entre Mário Soares e os representantes dos movimentos de libertação. Por meu lado já tinha, naturalmente, contactado com todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas, entre os quais os do Movimento Popular de Libertação de Angola. Tinha-lhes dado dois conselhos: primeiro, de formarem uma frente comum para negociarem com os representantes do Governo português e, por outro lado, visto que todos se reclamavam do socialismo, de constituirem um partido unificado, como tínhamos feito no Senegal com a União Progressista Senegalesa, que representava a unificação de quatro partidos de esquerda. Estes três movimentos de libertação de Angola seguiram os meus conselhos para negociações com Portugal, tendo a UNITA como conselheiro um senegalês, mas, depois da independência de Angola, iniciaram uma guerra civil. Embora mantivéssemos relações estreitas com a UNITA, não reconhecemos o Governo da UNITA-FNLA, como não reconhecemos o MPLA. E sabe bem que no encontro da OUA, realizado no princípio do ano, defendi a tese chamada "moderada". Referia-se ao artigo 3 do estatuto da OUA, que proclamava, por um lado o princípio da democracia e, por outro, o do não alinhamento. E éramos de opinião que os Estados estrangeiros não deviam intervir no conflito angolano, que era necessário constituir um Governo de união nacional e que este Governo preparia as eleições. Recusamos reconhecer o Governo de Neto, por provir de um golpe de força emanado do estrangeiro e não da vontade popular. E, além disso, não reconhecemos regimes, mas sim Estados.




Grandes entrevistas DN, in "Palavras no Tempo - Vol.I"