Local destinado a discutir tudo o que se relacione com Moçambique, em particular, e os PALOP, em geral.
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Discordo, bastante, do pensamento expressado pelo Sr. Vieira, sobre o problema da “cidadania lusófona”, esperando que a maior parte dos moçambicanos pensem, pelo menos em certos pontos, de modo diferente do dele. E desejo registrar o seguinte:
- Creio que a identidade linguística aproxima – e muito ! -, os seres humanos.
- Se os brasileiros chegaram a nutrir sentimentos de repulsa pelo que haviam herdado do antigo colonizador, estes sentimentos sumiram completamente na poeira do tempo ... Anima-nos, hoje, o sentimento de união, para defesa do patrimônio comum.
- Os laços do Brasil com os PALOPs estão “adormecidos”. Mas, aflorarão um dia – estou seguro ! – com total vigor.
- O fato de uma língua perdurar ou desaparecer em um país ou território deve-se, sobretudo, a decisão política: assim foi, ou tem sido, em Goa (substituição gradual, por lei, do Português pelo Inglês); assim houve quem pretendesse fazer (e a iniciativa malogrou) no Timor-Leste (substituição do Bahasa-Indonésio pelo Inglês)
- O Brasil jamais se integrará a quaisquer outros países, dentro do MERCOSUL, da ALCA ou seja do que for, sem que haja respeito pela Língua Portuguesa. Será sempre uma questão de honra para nós, brasileiros. E temos a força e a grandeza para fazermos sempre essa exigência..
- Concordo que, infelizmente, se discutiu muito pouco (na realidade, quase nada) sobre as vantagens ou desvantagens da cidadania lusófona, antes da última cimeira da CPLP em Brasília.
- E a entidade CPLP, infelizmente, ainda é muito pouco conhecida no Brasil e, acredito, também em todos os outros países lusófonos.
Saudações,
P. Kaul.
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Replying to:
Meu Caro Gil,
Pertenço à geração que com Mondlane se bateu pela moçambicanidade e com Samora a afirmou.
Considero a língua portuguesa, no meu país, como útil no reforço da nossa cidadania e um marco mais nas nossas fronteiras, quando existimos como uma ilha no seio do mar da anglofonia.
Nenhum cordão umbilical me liga a metrópoles.
Se gosto de Camões e Antero, de Eça e Namora, também busco força e inspiração em Aragon e Rilke, em Papini e Hikmet e mais me reencontro em Soyinka e Breytenbach, em Jorge Amado e sobretudo nos tão nossos Craveirinha e Noémia, para apenas mencionar o já que mais que consagrado. Claro que me calou fundo no coração o Nobel para Saramago, como me tocou o Nobel da Nadine tão nossa vizinha.
As línguas surgem e afirmam-se como instrumentos e nunca como meros sentimentos, elas nem unem ou dividem os povos, senão a PIDE não nos interrogaria sob tortura em português e, em português, Mestre Craveirinha e Nogar, Mestre Malangatana e tantos outros, no cárcere, afirmaram, em português, a sua pátria.
A lógica integra-nos na nossa comunidade a SADC, como leva o Brasil para o Mercosul e Portugal para a União Europeia.
Se por interesse dos colonos que haviam morto Tiradentes, o primogénito da coroa portuguesa proclamou a independência, isso não aconteceu em Moçambique, em Angola ou na Guiné.
Jamais as nossas Constituições consagraram qualquer direito especial para os cidadãos da antiga metrópole. A própria Constituição portuguesa não retribuiu, em reciprocidade, a delicadeza brasileira.
As boas relações prevalecentes entre os 8 devem desenvolver-se, não em discursos saudosistas e sentimentais sobre a língua, que cada dia mais se diferencia, mas sim na exploração do potencial económico e comercial resultante do existirmos em 4 continentes, ocuparmos as margens do Atlântico e do Índico, do Pacífico.
A carência deste substracto fez já desaparecer a língua portuguesa de Goa e nunca a deixou afirmar-se em Macau.
A preocupação duma cidadania lusófona não mereceu qualquer discussão em Moçambique, senão quando alguns burocratas da diplomacia quizeram provocar a sua gestação.
Acredito numa cidadania da SADC, e espero ainda vêr a cidadania africana e porque não e um dia apenas a humana?
Em Moçambique, todos os quadrantes políticos e sociais aplaudiram a recusa delicada em apor a sua assinatura em algo que nunca se debateu nesta terra e nunca a preocupou.
Um abraço amigo e sobretudo um abraço aos que de mim discordam e com as suas razões.